*Por Luciano Vacari
Colocar o alimento na mesa do cidadão nunca foi tão desafiador, seja do ponto de vista produtivo, dos marcos legais, mercadológicos e técnicos. As exigências são cada vez maiores e mais complexas, já a renda está cada vez menor. Por outro lado, o consumidor busca uma participação mais ativa no processo produtivo, cobrando por informações sobre a procedência e os modelos adotados. Encontrar o equilíbrio entre as duas pontas da cadeia requer transparência, tecnologia, governança e, claro, investimento.
Neste contexto a rastreabilidade é a melhor ferramenta para atender ao novo padrão produtivo. Com ela, é possível ter controle sanitário, ambiental e legal de tudo que é produzido, podendo ser realizada de maneira transversa, de ponta a ponta, tanto na agricultura quanto na pecuária.
Conhecer o alimento desde a origem passou a ser fator condicionante dos principais mercados consumidores, e a implantação deste modelo pode e deve ser uma iniciativa do próprio setor produtivo como forma de agregar valor ao mesmo tempo em que incorpora segurança jurídica a seus processos.
Com a rastreabilidade animal, por exemplo, é possível saber onde ele nasceu, as propriedades pelas quais passou, o regime alimentar adotado e os procedimentos sanitários ao qual foi submetido. E vai além disso, a rastreabilidade é um instrumento para atender também determinados mercados, como aquele que busca pela neutralidade de carbono e a produção regenerativa.
Agora vem a pergunta de todos. Quem vai pagar por isso? A tecnologia para isso já existe e está disponível para toda a agropecuária brasileira, mas ainda fica a pergunta e talvez a resposta esteja nos fundos internacionais, ou na vontade própria do consumidor.
Para isso, é preciso estabelecer regras claras sobre os mecanismos de controle que serão exigidos, assim ficaria mais fácil e seguro aplicar recursos públicos ou privados em iniciativas que busquem reduzir a emissão de gases, combater o desmatamento ilegal e recuperar áreas degradadas, entre outras inúmeras iniciativas sustentáveis.
Assim, os consumidores poderão ser definitivamente inseridos de forma mais ativa na produção e não ficarão reféns do que tem disponível, e ao mesmo tempo, o produtor poderá receber de forma mais justa pelo que oferece.
Com o tempo, até mesmo a fiscalização poderá ser feita diretamente por quem produz e por quem compra. Mas o fato é que mostrar de onde veio, como foi feito e por quem pode ser o diferencial para a valorizar os produtos originais do Brasil.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro consultoria