Estamos no caminho, mas temos que intensificar o ritmo
Por Luciano Vacari

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Diante do fogo cruzado entre produção de alimentos e aquecimento global, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) realizada em Glasgow, na Escócia, chegou ao fim com uma série de metas e compromissos firmados por vários países liderados pelos Estados Unidos e União Europeia. São desafios que colocam a agropecuária brasileira como um dos principais agentes para fazer com que o mundo seja mais sustentável. 

Alguns estudos colocam o Brasil, um dos maiores produtores de carne bovina do planeta, entre os cinco maiores emissores de metano na atmosfera. Portanto, para contribuir com a redução de até 30% das emissões prevista no Pacto do Metano proposto pela COP 26, o país terá que ampliar os investimentos que tem feito em inovações tecnológicas. 

É preciso deixar claro que para fechar esta conta, outros segmentos produtivos terão que se empenhar, tanto quanto a agropecuária, que contabiliza 40% das emissões mundiais. Os combustíveis fósseis, por exemplo, vêm em seguida com 35%, logo depois, a decomposição de resíduos orgânicos (20%) e até a atividade vulcânica, de acordo com dados da Global Methane Budget – Global Carbon Project. 

Por isso, mesmo no Brasil, para contribuir com o pacto, outros setores terão que apresentar seus compromissos e estratégias. 

No setor agropecuário, os principais gases de efeito estufa emitidos pela atividade são dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), sendo a produção de arroz e a fermentação entérica os setores que mais contribuem para a emissão. Assim, no setor, o principal desafio será mesmo na pecuária. 

Para o pecuarista, isso é um estímulo para aprimorar ainda mais o uso da tecnologia na busca por maior produtividade em menos tempo, sem aumentar a área de produção. Atualmente já temos a comprovação de que podemos ampliar o volume de carne, com a intensificação da suplementação alimentar. E também de que é possível reduzir as emissões com uma maior variedade de pastagem, pastagens mais bem manejadas, seleção genética e estratégias nutricionais. 

Em setembro deste ano, foi aprovado no Brasil o uso de uma alimentação para o rebanho com ingredientes que influenciam na fermentação entérica do bovino e resulta em uma menor emissão de gás metano, além também do manejo de resíduos da produção animal.

O produto é um aditivo para ração de boi, vacas e de outros ruminantes como ovelhas e cabras, que suprime a enzima que ativa a produção de metano no estômago dos animais e reduz a emissão entérica do gás de 30% até 95%, contribuindo para diminuir a pegada ambiental da carne. 

Depois de inibir a produção de metano no estômago, o insumo é transformado em compostos naturais e eliminado pelo processo digestivo. Um teste de carne bovina realizado pela UNESP em 2016/17 comprovou uma redução de até 55% na emissão de metano advindo da digestão animal.

O Brasil foi o primeiro país a dar aval para a tecnologia que demorou mais de uma década para ser desenvolvida e é considerada pelo Instituto de Recursos Mundiais (WRI, na sigla em inglês) como uma das dez inovações tecnológicas que ajudarão a alimentar o planeta de forma mais sustentável.

Um detalhe fundamental é que a agropecuária brasileira é expert no quesito investimento em novas técnicas para ampliar a produção de alimentos para o mundo. Agora precisamos mostrar isso, e rápido.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria

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