Aquilo que não se fala

por Luciano Vacari

por Luciano Vacari

Compartilhar no facebook
Compartilhar no twitter
Compartilhar no linkedin

O mundo não conhece a potencialidade ambiental do agronegócio brasileiro. A população não sabe como e o quanto de alimento é produzido e nem como a imensa maioria do sistema produtivo está alinhado com as boas práticas sociais e ambientais.  No Dia do Meio Ambiente, celebrado mundialmente em 05 de junho, é comum haver uma onda de protestos direcionados à agropecuária e isso se justifica por um dos maiores problemas do setor, a comunicação. Ou melhor, a falta dela.

O Brasil tem uma área total de 851,57 milhões de hectares. De acordo com o Censo Agropecuário realizado pelo IBGE, os estabelecimentos rurais ocupam uma área de 351 milhões de hectares, representando cerca de 41% do total do território. A agricultura, incluindo lavouras temporárias e permanentes, ocupa uma área que aproximadamente 65 milhões de hectares.

O país é um exemplo mundial em produtividade, tecnologia, inovação e preservação. Ano após ano estamos ampliando a produção de alimentos em áreas já consolidadas, sem a necessidade de haver desmatamento ilegal. Mas vamos falar em números.

Temos a legislação ambiental mais conservadora do planeta, que exige a preservação de 20% a 80% das propriedades. Segundo a Embrapa, por meio das Reservas Legais, o produtor rural mantém 20% do território brasileiro com vegetação nativa. Toda essa preservação é feita de maneira obrigatória e sem nenhuma remuneração, superando a área territorial de muitos países mundo afora.

Mesmo com todas as limitações legais, da década de 1970 para cá, a produtividade das lavouras triplicou. De acordo com o IBGE, no final da década de 70, a área destinada para a produção de grãos era de 37 milhões de hectares, onde se colhiam basicamente 37 milhões de toneladas. No último ano safra, 2019/2020, foram produzidas 241 milhões de toneladas de grãos em 63 milhões de hectares. Ou seja, de 1 milhão por hectare hoje produzimos 3,8 milhões por hectare safra.

Passamos de importador para o maior exportador de alimentos do mundo. Isto é muito mais do que grãos, é comida na mesa. A evolução no campo fez com que o brasileiro passasse a comer mais e melhor, ao mesmo passo que sustenta a balança comercial.

E mais, a produção pode aumentar somente com a recuperação de áreas. Mais da metade das áreas de pastagem no Brasil está degradada, o que representa cerca de 100 milhões de hectares. Isso mesmo, uma área maior do que a destinada para agricultura. A recuperação dessas áreas passa pela integração da lavoura-pecuária e intensificação produtiva. Podemos produzir muito mais com o que já temos.

Outra boa notícia é que tudo isso pode ser feito com a adoção de técnicas que mitigam a emissão de carbono por meio da compensação. Atualmente já produzimos carne carbono neutro, temos agricultura de baixo carbono e tantas outras ferramentas importantíssimas para reduzir os impactos no meio ambiente.

Tecnologia custa caro e só com financiamento público não é possível atender a imensa demanda por crédito. É preciso atrair investimento privado, aumentar a concorrência no setor financeiro e assim ampliar a produção de forma sustentável. O agro brasileiro é muito mais que segurança alimentar. É uma potência econômica, social e ambiental. Pena que disso não se fala.

*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria

Veja mais artigos de opinião​

Jogando para a torcida

Nos últimos dias um tema tomou conta das discussões nos grupos de whatsapp e rodas de bate papo Brasil afora, a declaração do CEO do Grupo Carrefour, o senhor Alexandre Bompard, um cidadão francês de

Vontade política

A pouco menos de 1 ano, o governo do Estado do Pará surpreendeu a todos os envolvidos na cadeia de valor da carne bovina do Brasil ao lançar o Programa de Integridade e Desenvolvimento da

Ninguém faz nada sozinho

A sociedade civil é dividida em 3 camadas, o 1º, o 2º e o 3º setor, sendo, por ordem, a administração pública, as empresas privadas e as instituições sem fins lucrativos. No primeiro deles, temos