O conceito ESG (do inglês Environment, Social and Governance, traduzido para Ambiente, Social e Governança) tem sido amplamente debatido ultimamente. Porém, entre a teoria e a aplicação prática há inúmeros desafios, especialmente relacionados a processos e mensuração. Agora, é inegável a excelente oportunidade para apresentar as boas práticas das empresas, auxiliando investidores e consumidores na sua tomada de decisão. O maior desafio é o chamado MRV, como medir, como reportar e como verificar.
Na área do “E” do Ambiente, o objetivo é melhorar as práticas e cuidados com o uso dos recursos naturais. Diversas indústrias, por exemplo, estão investindo na questão da reciclagem das suas embalagens. Mas, o carro-chefe, especialmente relacionado ao marketing, é o carbono e outros gases de efeito estufa.
Para se ter uma ideia, no segundo semestre do ano passado, quando ocorreu a COP26, centenas de países discutiram as questões de clima e aquecimento global, choveram anúncios e compromissos das empresas e dos governos para a neutralização do carbono. Mas a pergunta é: isso será de fato entregue?
Já o “S”, de social, busca melhores relações entre as organizações e os indivíduos, tanto funcionários quanto sociedade em geral. Nesse ponto, tem crescido de maneira acelerada os programas de incentivo às mulheres em posições de liderança e aumento da diversidade. Já há seleções que buscam especialmente pessoas LGBTQIA+ para ocupar vagas em todas as áreas de atuação.
No “G”, de governança, deve-se buscar práticas de alinhamento de interesses entre os sócios, funcionários e empresas, estabelecendo medidas que visam evitar fraude e corrupção, por exemplo. Transparência e responsabilidade corporativa são outros temas essenciais. Entre as três letras, a governança é onde estão os maiores desafios. Pois exige articulação público-privada e entre os diversos stakeholders.
Além dos resultados verdadeiros, o ESG tem sido uma estratégica importante de aumento da rentabilidade, da agregação de valor, de viabilidade do negócio e de marketing. Porém, isso não é trivial. Junto com o novo conceito, também há outro termo. O “greenwashing”, que significa uma suposta adoção de práticas ESG, mas que são apenas estratégias de marketing, sem praticar de forma relevante o conceito.
Para o agronegócio, há vários temas onde todos os elos das cadeias produtivas precisarão avançar. O principal será a rastreabilidade. Sem ela, não há como garantir a neutralidade em carbono, por exemplo. Sem rastreabilidade, não há como, de fato, separar o desmatamento ilegal e legal. Tampouco será possível comprovar que todos os trabalhadores estão em condições socialmente justas. E, para que ela aconteça, é necessário articulação com o governo.
Existem muitas estratégias sendo desenhadas e um leque de oportunidades para aproximar o setor produtivo dos consumidores. Porque este é objetivo principal, dar ao consumidor a oportunidade de escolher o que comprar e assim compartilhar as responsabilidades. Não haverá mais espaço para generalizações e criminalização de setores, cada qual tem sua opção de como produzir e do que consumir.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação.