A ponte caiu. Não é mentira. No Brasil do século XXI, ainda existem pontes caindo e matando pessoas. São pelo menos quatro mortos confirmados (até o momento em que escrevi este artigo) e 15 desaparecidos no Amazonas após o desabamento de uma ponte sobre o rio Curuçá, no km 25 da BR-319, a 102 km da capital Manaus. Esta é a única rodovia que liga os estados do Amazonas e Rondônia e por isso mesmo importante via de tráfego de pessoas e mercadorias.
Ao passar pelo local após a queda da ponte a sensação que se tem é de tragédia anunciada. Cinco dias antes do desabamento passei no local, que já apresentava problemas e o trânsito era realizado em sistema de pare e siga. Na volta, a travessia foi de canoa, entre carros e vidas submersas.
Pode parecer insensível falar em desenvolvimento quando há vidas perdidas, famílias em luto. Mas não, é justamente isso que falta na região mais rica em biodiversidade do planeta. Enquanto o mundo clama pela preservação da Amazônia, os povos que vivem na floresta passam fome, sofrem com a falta de infraestrutura, educação e saúde.
O recente levantamento da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), divulgado no começo de setembro, aponta que a região Norte é uma das que mais sofre com a fome. De acordo com os dados, somente 29,5 % da população do Amazonas vive em situação de segurança alimentar e 26% estão em situação grave de insegurança alimentar.
Com tantas riquezas e potenciais, é inaceitável condenar aquele povo a viver na miséria. E não se trata de destruir floresta para entrada do agronegócio, mas de políticas públicas e parcerias públicas privadas que promovam o desenvolvimento socioeconômico da região.
Por meio da educação e de investimentos em setores como turismo, agroecologia, manejo florestal, exploração sustentável dos produtos de base florestal, entre outros, é possível gerar renda e dar mais qualidade de vida para as pessoas que vivem lá.
A floresta é um ecossistema vivo, que pode e deve ser explorado de maneira correta para produzir riquezas para quem nela vive. A manutenção da floresta em pé depende disso, pois os crimes ocorrem principalmente onde faltam alimento, educação, saúde e dignidade. São nestes espaços que surgem oportunidades para desmatamento ilegal, garimpos ilegais, tráfico de drogas, exploração sexual infantil, e todas as mazelas que atingem as populações vulneráveis.
A floresta precisa estar em pé, assim como as pessoas que lá estão. Conservação ambiental só existe, de fato, onde há desenvolvimento socioeconômico. Os olhos e os investimentos dos países ricos e do próprio Brasil precisam se voltar para as pessoas da Amazônia, pois é nelas que vivem os verdadeiros guardiões da floresta.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação