A partir do ano que vem, cerca de 50% do rebanho bovino brasileiro deixará de receber a dose anual da vacina contra febre aftosa. Uma iniciativa muito esperada e planejada por entes públicos e privados que traçaram um plano estratégico que se encerra em 2027. O que poucos sabem, porém, é que este programa começou décadas atrás, como uma política de Estado para garantir a sanidade do nosso rebanho, a segurança alimentar da população e a abertura de importantes mercados para a carne bovina nacional.
Desde 1934 o país promove ações para prevenir a doença, mas foi a partir de 1950 que o Brasil passou a estudar formas para controlar e erradicar a enfermidade de seu território. Na época, o governo financiou e estimulou pesquisas para o desenvolvimento de vacinas, identificação das áreas com ou sem foco da doença e o controle do trânsito de animais.
A chamada rastreabilidade sanitária, aliás, foi fundamental no processo de controle da doença, pois as pesquisas apontavam que o trânsito de animais estava diretamente ligado à propagação do vírus. Assim, foi possível regionalizar a ocorrência da doença e atuar de forma mais contundente. Aos poucos, o programa de controle passou a ser substituído por programa de erradicação da aftosa.
E deu certo. Se hoje caminhamos para a retirada da vacinação, muito se deve ao trabalho de pesquisadores, estadistas que tiveram visão de mercado e investiram em políticas públicas voltadas para a estruturação e fortalecimento dos institutos de defesa agropecuária, empresas e laboratórios que dedicaram recursos para desenvolver soluções viáveis e segura.
Mas tem um agente fundamental neste processo todo, o produtor rural. A decisão passava por ele, era ali que a virada da chave precisava ocorrer. Comprar a vacina é a parte mais fácil. Mas da porteira para dentro, o desafio está no manejo do rebanho, na mobilização da mão de obra, no investimento em capacitação. Percebem? O produtor rural é o agente mais importante.
Foram muitos anos de dedicação e trabalho sério. Um trabalho que só deu certo graças à união entre os produtores, os serviços de defesas estaduais e o ministério da agricultura. Surgiram os fundos de sanidade regionais, e hoje existe todo um ambiente favorável para atingir o tão sonhado status de livre de aftosa sem vacinação.
Porém, tanto trabalho, investimento e dedicação exigem segurança. Precisamos estar prontos para agir em qualquer situação, antecipar problemas para que as respostas sejam rápidas.
Como estão estruturadas nossas agências de defesa estaduais?
De onde virão os recursos necessários para manter toda essa estrutura de vigilância e defesa funcionando?
Quem será o responsável pelo banco de antígeno? E quem pagará por ele?
Essas são perguntas simples que precisam ser respondidas de uma só maneira em cada mesa de discussão sobre o tema, afinal uma ocorrência, destruiria a reputação construída e conquistada com atuação de diferentes atores durante todos esses anos.
Parabéns aos produtores, governos e serviços de defesa brasileiros. Vocês construíram um grande caminho, mas não custa nada deixar uma ponte de pé.
*Luciano Vacari é gestor de agropecuária e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação