O Brasil é um dos principais produtores de alimentos, fibras, energia e minério de ferro do mundo. É também um dos 10 maiores fornecedores globais de derivados de petróleo e toda essa produção é disponibilizada tanto para o consumo interno, quanto para o abastecimento de outros países. Mesmo assim, o país encerrou 2021 na 25ª posição no ranking mundial de exportadores, com uma receita equivalente a US$ 280 bilhões.
Apesar do grande potencial agropecuário brasileiro, em termos de receita nossos produtos ainda são muito menos rentáveis do que a produção do Japão, da França ou da Holanda, por exemplo, que exportam tecnologia, seja empregada em veículos, num frasco de remédio ou numa tulipa.
A França, por exemplo, exportou em 2021 o equivalente a US$ 585 bilhões provenientes principalmente da venda de máquinas e equipamentos de transporte, aviões, plásticos, produtos químicos, fármacos e bebidas, a grande parte é de bens industrializados.
Para fazer uma comparação um pouco mais justa, podemos citar o exemplo da Holanda, que desponta como quinto maior exportador mundo e movimentou US$ 836 bilhões em 2021. Porém, a Holanda se destaca por ser o segundo maior exportador mundial de alimentos, atrás somente dos Estados Unidos e uma posição na frente do Brasil. Tudo isso com um território 200 vezes menor do que o brasileiro. O grande feito ocorre porque o agronegócio lá é caracterizado pelo alto valor agregado, com o fornecimento de flores e plantas ornamentais, hortaliças de qualidade elevada e queijos.
Além de tecnologia, nestes países também há outros fatores que contribuem com o melhor desempenho da economia, como logística eficiente e política fiscal mais justa. Com isso, é possível observar cidades e população com altos índices de desenvolvimento. O Japão possui um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) de 0,884, Holanda de 0,890 e França de 0,891, e todos estão entre os melhores do mundo. O Brasil possui atualmente um IDH de 0,759.
Nosso país ainda tem um longo caminho pela frente, tanto por meio da agregação de valor e industrialização da produção agropecuária, quanto por meio de investimentos em logísticas, reforma tributária e administrativa.
E mais, é preciso promover a qualificação de todos os integrantes das cadeias produtivas, com a capacitação dos trabalhadores operacionais, fomento à pesquisa e estímulo aos pesquisadores e desenvolvimento profissionais dos executivos. É este olhar 360º sobre os sistemas produtivos que vai garantir inovação para o modelo econômico do Brasil.
Sem isso, não há como falar em justiça social, educação, democracia virtual, desenvolvimento humano. Não adianta sermos os maiores produtores de alimentos, e ter pessoas passando fome. Ser um grande exportador de produtos e não reverter isso em renda para a população. A revolução começa de dentro para fora, mas a inspiração pode vir de todos os lugares.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação