Qual a justa medida entre uma aceitação absoluta e uma oposição imoderada? Qual o limite entre liberdade de expressão e crime contra a honra de alguém? Como aceitar os direitos dos que possuem opiniões divergentes?
Até onde nossos valores e princípios sobrepõem aos do próximo, quando o próximo não é espelho.
Essas perguntas são naturalmente difíceis de serem respondidas. É natural do ser humano buscar pela homogeneidade, mesmo que utópica, como se fosse um mecanismo de defesa na tentativa de afastar aquilo que ameaça. Busca inútil. Não somos iguais, nunca seremos. As diferenças estão em aspectos fisiológicos, sociais e culturais inerentes da pessoa humana.
A busca é justamente pelo respeito às diferenças, por mecanismos que permitam o diálogo, o debate saudável, a troca de experiências, a negociação e o aprendizado. Coisas que parecem cada vez mais distante, não só da política, mas do dia a dia de cada um.
Recentemente em Mato Grosso, duas meninas espancaram uma colega até ela desmaiar no banheiro da escola. Toda a cena foi filmada e compartilhada nas redes sociais em um total processo de banalização da violência. A vítima já vinha relatando que estava sofrendo discriminação racial das colegas. As crianças envolvidas tinham oito anos de idade.
No Paraná, esta semana, um policial militar matou oito pessoas, sendo seis delas da própria família e tirou a própria vida. Um crime estarrecedor que deverá entrar para as chocantes estatísticas de feminicídio, já que as autoridades acreditam ter sido motivado pela não aceitação do fim do casamento.
Também no Paraná, uma troca de tiros tirou a vida de um guarda municipal que comemorava seu aniversário de 50 anos e teve a festa invadida por outro agente da segurança pública. O homem morto era eleitor de um, e o outro homem dizem que é eleitor de outro!
Em cada uma das situações acima, um motivo diferente levou pessoas a cometerem um crime. Porém, em todas elas, não houve tolerância com o diferente. Seja nas crianças que não aceitavam a colega negra, no homem que não queria o fim do relacionamento ou no eleitor que não concordou com o tema da festa de um desconhecido, o que se vê é incapacidade de lidar com aquilo que não agrada.
A falsa sensação de anonimato e impunidade das redes sociais está contaminando as relações humanas. As pessoas não sabem mais ouvir, só querem falar, esbravejar, impor a sua verdade. É preciso exercitar a democracia, a escuta, o diálogo. Está tudo errado. E o pior, todo mundo acha que está certo.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria