Os conflitos entre Rússia e Ucrânia e as consequências de uma guerra evidenciaram a dependência brasileira da importação de fertilizantes e insumos químicos agrícolas, produtos essenciais para o desenvolvimento e produtividade dentro do agronegócio. Essa dependência ocorre por diversos fatores como, por exemplo, pela capacidade industrial e disponibilidade de matéria prima. A produção nacional de fertilizantes é praticamente irrisória perto da demanda do agro.
Para se ter uma ideia, no início dos anos 2000, o Brasil importava cerca de 10 milhões de toneladas de fertilizantes e produzia aproximadamente 8 milhões de toneladas. Em 2021, o país importou 39 milhões de toneladas e produção nacional ficou praticamente estável, fechando em 21 com 6,9 milhões de toneladas.
Essa importação, em geral, tem como origem a Rússia, principal produtora de insumos e fertilizantes químicos do mundo. O início da guerra gerou dificuldades logísticas e incertezas de produção, levando a uma alta nos preços dos produtos em escala mundial. O Brasil, consequentemente, teve os custos da produção aumentados e ainda sofre com relação à disponibilidade desses insumos para as safras de inverno e até mesmo para a safra 22/23, que teve início recentemente.
Além da dependência direta da Rússia, ainda tem um outro fator que impacta no mercado global, que é o fato de a maior parte dos produtores mundiais de fertilizantes depender de pelo menos um componente que passa pela cadeia de produção Russa ou no próprio leste europeu.
Tudo isso ressalta a necessidade do agronegócio brasileiro diversificar seus fornecedores e, sobretudo, estimular e incentivar a produção interna de insumos agrícolas. E aí que surgem alternativas modernas e possíveis para o país.
Os chamados fertilizantes especiais advêm de produtos de origem mineral ou biológica, fruto de pesquisas desenvolvidas para obter um melhor rendimento e eficiência de forma menos desgastante ao solo, elevando no longo prazo a produtividade da terra. No Brasil, este setor vem crescendo acima de 15% ao ano.
Outros produtos que já são uma realidade são os defensivos biológicos, uma alternativa mais sustentável ao modelo predominante atual. Esse mercado tem um enorme potencial, conforme a produtividade do agro avança, as responsabilidades ambientais também aumentam e os produtos de origem biológica deverão, além de suprir uma necessidade, agregar valor à produção nacional.
É hora de fortalecer as soluções de baixo impacto e reduzir a dependência externa para continuar produzindo alimentos para todo o mundo.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria & Comunicação