A oportunidade da mudança

por Luciano Vacari

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Daqui a três meses entra em vigor a nova rotulagem de alimentos e bebidas, especialmente para alimentos processados e ultra processados, aprovada pela Anvisa em 2020, que nada mais é que uma estratégia adotada para conter os altos índices de obesidade e doenças crônicas na população. As associações e as indústrias de alimentos se preparam já há meses para mudar suas embalagens e para, até mesmo, repensar a composição dos seus portfólios de produto.

De maneira bem simples, a nova rotulagem busca deixar mais claro se o produto tem um grande percentual de açúcar, sódio ou gordura em sua formulação. É claro que quando o consumidor compra uma bolacha recheada, por exemplo, ele sabe que é rico em açúcar. Porém, a nova rotulagem vai deixar isso mais explícito na parte da frente da embalagem, tanto com lupas para chamar a atenção, como em letras e cores de maiores destaque.

Há muita tecnologia na indústria de alimentos processados. E muitos avanços já foram feitos. Os tradicionais salgadinhos adorados pelas crianças, por exemplo, já têm muito menos sódio hoje do que alguns anos atrás. Muitos dos produtos que eram fritos, já são produzidos com tecnologias onde não há frituras.

A mudança nos rótulos foi adotada pelo Chile em 2016. Um estudo publicado em 2021, demonstrou que houve uma redução no consumo dos produtos, especialmente os altos em sódio, com queda de 36,7% e altos em açúcar, com 26,7%. Porém, isso não se refletiu em queda no faturamento da indústria de alimentos, que se adaptou mudando a fórmula dos alimentos com maior concentração.

É muito provável que, com o tempo, a própria indústria de alimentos processados melhore ainda mais seus processos e formulações, visando colocar na mesa dos consumidores comida cada vez mais saudável.

A proposta inicial, ligada à saúde pública, também é uma oportunidade de posicionamento de imagem. A indústria de alimentos não pode ser reconhecida como um problema, é preciso destacar tudo que ela proporcionou à população ao longo dos últimos anos, principalmente após 1920, quando número de indústrias salta de 2.709 para 32.872 em 1950 no Brasil. Atualmente, há 37 mil indústrias registradas no país e mais 1,7 milhão de pessoas empregadas diretamente.

Mas esse setor é mais do que números. Foi por meio das indústrias que os alimentos tiveram a durabilidade aumentada, foram porcionados e hoje há grande variedade de comida disponível e acessível a grande parte da população. Frescos, congelados, pré-prontos, os alimentos industrializados trouxeram mais facilidade para os lares das famílias.

Toda a grande mudança, num primeiro momento, gera resistência e incertezas. Mas não deixa de ser provocações para estimular mudanças e criar oportunidades.

Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria

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