Comitiva, de acordo com o dicionário, é um substantivo feminino que significa grupo de pessoas que se reúne para acompanhar algo ou alguém. Existem comitivas de autoridades, mas também existem aquelas mais rústicas, porém não menos importantes, que levam rebanho de uma região para outra, reunindo boiadeiros e boiadeiras no comando do gado. Tanto em uma, quanto na outra, a liderança de quem conduz é que dirá a direção para onde se vai.
Na última semana, uma comitiva de empresários brasileiros acompanhou uma missão de autoridades e técnicos do Ministério da Agricultura e Pecuária até a China. As notícias que chegam de lá são, no mínimo alvissareiras. Fim do embargo à carne bovina, ampliação da lista de frigoríficos autorizados, agenda sustentável e ampliação das relações comerciais foram algumas delas.
Que a China é o maior parceiro comercial do Brasil todos sabem. O que poucos têm ideia é do tamanho da dependência que temos dos amigos orientais. Hoje, eles são responsáveis por quase 70% de toda a carne bovina exportada por nós, além da soja, milho, algodão, frango e suíno. Dependência? Sim, isso mesmo! O Brasil hoje é dependente comercialmente da China, qualquer problema com os embarques para lá, mesmo que temporário, fazem com que os preços aqui desabem imediatamente.
Daí a importância da ida da tal comitiva.
Entre os mais de 100 integrantes, estavam os maiores empresários do setor de alimentos, fibras e energia, chefes de autarquias, o ministro da agricultura Carlos Fávaro e os principais técnicos da pasta. E estes últimos foram importantíssimos para a visita, pois deram respaldo à todas as decisões que foram tomadas, o que foi ótimo.
Quanto à presença dos empresários, dá um sinal claro sobre o interesse e o respeito aos chineses. Afinal, não estamos falando de qualquer comprador, não é mesmo? Mas a presença do governo brasileiro foi fundamental. Passou a mensagem de que estamos dispostos a conversar e mantermos em bom nível nossa relação. Isso é ótimo para o Brasil, para a indústria e para os produtores.
Apesar de que este último grupo fez falta lá. Os produtores, aqueles que estão mais próximos das comitivas raiz do nosso país, não foram. E as decisões que foram tomadas impactam diretamente nos negócios, mas enfim. Que venham mais oportunidades para aproximar os interessados comuns de um mesmo assunto, independente de ideologias. Precisamos ocupar os espaços.
Voltando à missão, é claro que tiveram ruídos. Certamente o maior deles foi a fala do presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) sobre desmatamento no Brasil. Por que gastar tempo falando do problema, se temos tantos exemplos positivos para mostrar? O uso de tecnologia, o aumento de produtividade, as boas práticas de produção, a excelência do nosso serviço de defesa, o desmatamento evitado. Poderia ter ficado horas falando do que temos de bom não é mesmo? Mas tenham certeza, ficou o aprendizado.
Por fim, tivemos a ausência do presidente brasileiro, o que certamente frustrou alguns dos membros da comitiva, mas a falta poderá ser compensada em breve em outra missão.
O mais importante disso tudo foi a mensagem de respeito e interesse que passamos. Que venham outras missões, para a Europa, para outros países da Ásia, Por que não? Afinal, estamos aprendendo que não se deve colocar todos os ovos no mesmo cesto.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria