O Brasil é modelo quando se fala de agronegócio. Tecnologia e políticas públicas como crédito e pesquisa alavancaram a produção de grãos, fibras e carne em todo o território, inclusive em áreas consideradas, até então, improdutivas. Por outro lado, a agricultura de pequeno porte e familiar ainda precisa alçar voos muito mais altos para se tornar mais rentável e produtiva.
O desenvolvimento deste segmento exige um conjunto de ações que inclui desde linhas de crédito e assistência técnica, até questões legais como regularização fundiária e sustentabilidade ambiental. E tudo isso, claro, está intrinsecamente interligado.
O acesso ao crédito, por exemplo, exige documentação de terra, mesmo que provisória, e licenciamentos ambientais. Sem assistência técnica, o pequeno produtor nem sempre consegue produzir adequadamente e mais uma vez haverá problemas tanto com relação à renda, como também com relação à certificação da produção. Enfim, é um círculo vicioso que leva pequenos produtores em busca de melhores condições.
Existem dois caminhos que são, na verdade, complementares. O primeiro é o fortalecimento e ampliação das políticas públicas voltadas para os pequenos produtores. Ao mesmo tempo, os mesmos recursos que um governo pode disponibilizar, também podem chegar por meio de instituições privadas.
Há algum tempo, o agronegócio é bancado por empresas que atuam no setor. O boom da produção passa pelas tradings que emprestam dinheiro para financiar a produção e depois recebem em produtos. Esse mecanismo pode não ser perfeito, claro, mas foi fundamental para chegar onde o braço do governo não alcança.
Se dependessem apenas de Plano Safra e Embrapa, que são fundamentais, o país não seria a liderança mundial que é hoje. Agora, voltando ao problema dos pequenos produtores, faltam as grandes empresas e instituições olharem para este setor que tem sim um enorme potencial.
A produção de alimentos passa pela agricultura de pequeno porte e são pelo menos 200 milhões de brasileiros que precisam comer todos os dias. E mais, existe demanda para exportar agregando mais valor a essa produção.
Nos grandes centros urbanos já é possível ver esse movimento para aproximar consumidores de produtores. Por meio de grupos de compras, os produtores vão além das feiras, chegam nas casas das pessoas e recebem a mais por isso. Muitas vezes existe investimento privado para viabilizar esta rede e garantir o abastecimento contínuo.
É da iniciativa privada, também, que pode vir os recursos para adequar a produção com modelos mais sustentáveis. Grandes redes de supermercados já perceberam a importância de ter na prateleira uma carne que tenha procedência comprovada, sanitária, social e ambiental. Eles foram para dentro do país financiar projetos de recuperação de pastagens, melhoramento genético de bovinos e assim garantir bezerros de qualidade e sustentáveis.
O consumidor, que está lá na Europa ou, aqui mesmo, em São Paulo, não só aprova isso como paga a mais. Oportunidade tem para todos: para quem produz, para quem vende e para quem compra. O pequeno produtor quer, precisa e agradece a parceria, pública e privada.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria