*Por Luciano Vacari
A população mundial chega a quase 8 bilhões de pessoas, com expectativa de totalizar 10 bilhões até 2050. Com isso, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) projeta uma demanda de 70% mais alimentos e 40% mais água. Assim, o potencial de retorno econômico de investimentos na produção de alimentos, fibras e bioenergia no meio rural é enorme. Porém, investimentos são necessários.
O Brasil tem muitas áreas abertas onde a produção pode ser intensificada. De acordo com o Lapig/UFG, são quase 100 milhões de hectares de pastagem que têm algum grau de degradação. Isso significa que é possível multiplicar a produção de carne e leite e ainda ceder áreas para a agricultura.
Ao mesmo tempo, mais de 66% do território é destinado à preservação nativa, de acordo com dados do Mapbiomas e da Embrapa. Ou seja, o Brasil é um país que conserva, que é líder na produção e exportação de diversos produtos do agro, e que ainda pode produzir muito mais.
O desafio está em como isso pode ser feito. Para aumentar a produção, dois pontos são essenciais: assistência técnica e crédito rural. E o crédito rural é um desafio. O recurso do Plano Safra 2020/2021 terminou rapidamente.
Os produtores estão demandando e estão investindo. Para este Plano, 2021/2022, já existem rumores que para algumas linhas, como a Agricultura de Baixa Emissão de Carbono (ABC), o volume de projetos que estão em análise já terminaria com o recurso. E olha que não estamos nem na metade do ano safra e os recursos já estão ficando escassos.
É nesse momento que alternativas são fundamentais e uma delas é o Fiagro (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais). Desde o início de agosto, é possível negociar esses produtos na bolsa. Espera-se com ele que pessoas físicas e jurídicas, do Brasil e do mundo, possam investir na agropecuária brasileira.
Dois meses depois do Fiagro começar a funcionar, foi instituída também no Brasil a Cédula de Produto Rural (CPR) Verde, instrumento que poderá ser emitido pelos produtores para atividades de serviços ambientais relacionadas à conservação de florestas e recuperação da vegetação nativa e que resultem, entre outros, em redução de emissões de gases de efeito estufa.
Ao invés de se comprometer em entregar o resultado da produção agropecuária em pagamento a um recurso financeiro obtido para investimento, o produtor poderá dar como garantia ao dinheiro recebido a manutenção de determinada área florestal em pé. Ou seja, os investidores vão financiar a produção e em contrapartida o produtor se compromete a conservar ou recuperar áreas de vegetação nativa. É o pagamento pelos serviços ambientais saindo do papel.
E isso já está sendo realizado. O primeiro produtor financiado é em Mato Grosso do Sul, com investimentos realizados pelo Itaú BBA. O produtor se comprometeu a não realizar supressão da vegetação nativa de suas propriedades pelos próximos dois anos.
Fiagro, CPR Verde, Finanças Verdes, a busca por recursos internacionais é uma estratégia fundamental para impulsionar o crescimento da agropecuária brasileira: produzindo e conservando.
Sem dúvida, o futuro será muito fértil. No entanto, é preciso estruturar projetos para os pequenos e médios produtores. Os investimentos que estão saindo, com recursos alternativos ao crédito rural tradicional, têm sido direcionados em sua maior parte para aqueles que têm escala produtiva. Esse é um ponto importante para as associações de produtores colocarem nas suas agendas: a estruturação de projetos conjuntos. Não será fácil. Mas os resultados são promissores. Demanda internacional aquecida, mercado asiático crescendo, e por aqui um país que pode produzir, conservar e sequestrar carbono no solo.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro Consultoria e Comunicação.