Ter alimento no prato nunca foi tão desafiador. Do ponto de vista produtivo, as exigências legais, mercadológicas e técnicas são cada vez maiores e mais complexas. Por outro lado, o consumidor busca uma participação mais ativa no processo produtivo, cobrando por informações sobre a procedência e os modelos adotados. Encontrar o equilíbrio entre as duas pontas da cadeia requer transparência, tecnologia, governança e, claro, investimento.
A rastreabilidade é a melhor ferramenta para atender ao novo padrão produtivo. Com ela, é possível ter controle sanitário, ambiental e legal de tudo que é produzido. Deve ser realizada tanto na agricultura quanto na pecuária.
Conhecer o alimento desde a origem passou a ser fator condicionante dos principais mercados consumidores. E a implantação deste modelo pode e deve ser uma iniciativa do próprio setor produtivo como forma de agregar valor ao mesmo tempo em que incorpora segurança jurídica a seus processos.
Com a rastreabilidade animal, por exemplo, é possível saber onde ele nasceu, as propriedades pelas quais passou, o regime alimentar adotado e os procedimentos sanitários ao qual foi submetido. E vai além disso, a rastreabilidade é um instrumento para atender também determinados mercados, como aquele que busca pela neutralidade de carbono.
Agora vem a pergunta de todos. Mas como? Quem vai pagar por isso? A tecnologia para isso já existe disponível, para toda a agropecuária brasileira. São ferramentas seguras de monitoramento da cadeia produtiva e que podem ser repassadas até o comprador final.
Já o financiamento para implantação da tecnologia pode ser feito por meio dos fundos internacionais, pela própria iniciativa privada ou pelas linhas de créditos especiais ofertadas pelo poder público.
Para isso, é preciso estabelecer regras claras sobre os mecanismos de controle que serão exigidos, assim ficaria mais fácil e seguro aplicar recursos públicos ou privados em iniciativas que busquem reduzir a emissão de gases, combater o desmatamento ilegal e recuperar áreas degradadas, entre outras inúmeras iniciativas sustentáveis.
Com o tempo, até mesmo a fiscalização poderá ser feita diretamente por quem produz e por quem compra. Assim, os consumidores poderão ser definitivamente inseridos de forma mais ativa na produção e não ficarão “reféns” do que tem disponível. Ao mesmo tempo, o produtor poderá também receber de forma mais justa pelo que oferece.
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e diretor da Neo Agro consultoria