Queda no abate total é impulsionada principalmente por retenção de fêmeas jovens

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Recentemente, o IBGE divulgou os dados de abate de bovinos referente ao primeiro trimestre de 2021. Os números revelam que o volume de animais abatidos somou 6,56 milhões de cabeças, número 10,6% inferior ao mesmo período 2020, que foi de 7,33 milhões de cabeças. Nos últimos dez anos, cerca de 25,9% do total abatido no ano ocorre nos primeiros três meses do ano.

Em 2021, além da menor disponibilidade de animais prontos para abate, o cenário foi condicionado pela retenção das matrizes para produção que vem acontecendo desde 2020. O primeiro trimestre é o momento em que se abate mais fêmeas. Isso ocorre pois é nessa época que as vacas que não ficaram prenhas são enviadas para os frigoríficos. Seja a estação de monta planejada ou natural, possibilitada pela melhoria das pastagens, as fêmeas começam a ser emprenhadas a partir de outubro, normalmente.

A quantidade de fêmeas (vacas e novilhas) abatidas apresentou queda de 23% ante o primeiro trimestre de 2020, somando 2,41 milhões de cabeças, sendo o menor volume para o primeiro trimestre desde 2003, quando totalizou 1,93 milhões de cabeças (figura 1). Este declínio é justificado pelo preço dos animais de reposição em patamares elevados, quando de janeiro a março alcançou R$ 2.979,22, sendo o maior valor em reais por trimestre em relação a série histórica do Indicador do Bezerro do Cepea Esalq/BM&FBovespa – Mato Grosso do Sul (figura 3), que levou o reforço da retenção das fêmeas, inclusive de fêmeas em idade reprodutiva. É válido ressaltar que o total de fêmeas de janeiro a março correspondeu 36,8% do total de animais abatidos.

Figura 1. Abate de vacas, novilhas e o abate total de fêmeas referente aos primeiros trimestres de 2003 a 2021.

A quantidade de novilhas abatidas foi 27% inferior em relação ao primeiro trimestre de 2020, quando 647,2 mil fêmeas jovens foram abatidas. A queda no abate de vacas, que normalmente são aquelas que já reduziram seus índices reprodutivos, foi de 21%. Estes números indicam que a redução é explicada por uma estratégia dos produtores em produzir mais bezerros.
Historicamente, em 2019 houve recorde de abate de novilhas, 3,6 milhões de novilhas – especificamente no primeiro trimestre foram abatidas 53,1% acima do que neste início de 2021, em razão não só apenas da disponibilidade animais para abate, mas também para atender a demanda externa aquecida pela carne bovina brasileira.
Estados – Em Mato Grosso, mesmo com a retração no volume de fêmeas abatidas no primeiro trimestre, o estado representou 15,7% do abate de animais do país, totalizando 1,02 milhões de cabeças, variação negativa 16,9% ante ao primeiro trimestre do ano anterior. Além disso, outras principais regiões produtoras de carne apresentaram diminuição na participação do abate quando analisado o mesmo período de 2020, como Mato Grosso do Sul e Goiás e São Paulo corresponderam uma parcela de 11,7%, 9,8% e 11,2% do total abatido no Brasil, respectivamente. Como mostra na figura 2.

Figura 2. Participação dos principais estados no abate total do país e quantidade de abate total e de fêmeas no Brasil e dos estados produtores de carne no país.






Como dito anteriormente, a fêmea baliza o mercado da pecuária. Tendo isso em mente, é possível observar que o ciclo pecuário há grandes oscilações seja por período de seca ou menor disponibilidade de animais jovens ou em terminação. A tendência ao longo dos anos é melhorar cada vez mais a eficiência para produzir mais em menos tempo, com utilização de estratégias nutricionais e tecnológicas aliadas a bom planejamento.
Os intensos abates de fêmeas comprometem a produção de bezerros e a sua baixa oferta no mercado prejudica a próxima safra, pois reduz estoques de animais para reposição e abate, como vem acontecendo em 2021. De 2020 até março de 2021, conseguimos analisar como as fêmeas influenciaram drasticamente no comportamento dos preços do boi gordo e bezerro. Na figura 3, observa-se na linha a evolução dos preços do Indicador do Bezerro do Cepea Esalq/BM&FBovespa – Mato Grosso do Sul e Boi Gordo em valores reais – deflacionado pelo IGP-DI de maio de 2021), que por sua vez subiram em virtude da menor oferta de novilhas e vacas.

A figura 3 ilustra também um ponto interessante, a partir dela o pecuarista pode acompanhar o movimento de “montanha russa” no ciclo pecuário, de 2016 até 2019 a cotação do animal jovem apresentou um viés de baixa, ou seja, acentuando a baixa do ciclo pecuário. Assim, quem se planejou no período citado, atualmente está na crista da produção. Por exemplo, o produtor que investiu em 2018 em um bezerro com uma média no terceiro trimestre a R$ 1.755,29, hoje teria seu animal pronto para o abate, sendo que esse foi o menor valor no período de 2016 a 2021.

Figura 3. Preço do bezerro trimestral em valores reais do indicador Cepea e participação das fêmeas no abate trimestral.

Já o gráfico 4 mostra a participação das fêmeas no abate anualmente e como esse movimento sazonal pressiona nas cotações. Os preços do boi gordo e bezerro, de 2020 a 2021, apresentaram patamares recordes e a tendência ainda é de subida, principalmente com a retenção das matrizes e a entressafra. Vale ressaltar que esses não são os únicos pontos que influenciam, o próximo ano ainda é recheado de incertezas políticas e econômicas. Dessa forma, cabe o produtor entender as atividades dentro e fora da porteira.

Gráfico 4. Participação das fêmeas e o preço deflacionado pelo IGP-DI do Boi gordo e Bezerro do indicador Cepea Esalq/BM&FBovesp.


Com as fêmeas modelando o mercado dos machos, o pecuarista deve procurar saídas para alta do ciclo, com isso, o reforço em segurar as fêmeas na fazenda permite a safra seguinte ter mais animais na recria e engorda. No entanto, com a cotação do bezerro nas alturas, a cria se consolida como investimento atrativo, pelo menos por enquanto.

O que esperar a curto, médio e longo prazo?
As perspectivas para abate em 2021, a curto prazo, são ainda de menor oferta de animais aptos para abate, e com isso, maior pressão no mercado do boi gordo atualmente. A médio prazo observa-se preço de reposição de animais elevado. Já a longo prazo, cerca de dois ou três anos, o movimento de retenção das fêmeas pode ocasionar a recuperação no volume de animais para produção, e consequentemente melhora dos preços, seja na reposição ou no bezerro. Por enquanto, o produtor deve estar atento para aquisição de animais, principalmente no período atual de alta do ciclo pecuário.

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