Todos os dias desatamos nós que nos impedem de seguir o caminho planejado, atrasando o processo e tornando o produto ou o serviço mais caro. Pior ainda é quando ao invés de nós, nos deparamos com pontas soltas, por que ao contrário das dificuldades impostas pelo 1º, no caso das pontas soltas a solução, infelizmente não depende de nós, e esse é o problema.
Trazendo para o dia a dia da produção de alimentos no Brasil, vejamos alguns exemplos.
O código florestal brasileiro é de longe, o melhor e mais completo regramento de proteção ambiental do mundo, isso é um fato, porém, uma peça chave para a efetividade de suas ações é o Cadastro Ambiental Rural, o famoso CAR, muito comemorado à época, e que até hoje não funcionou, fazendo com o produtor rural arque com todos os ônus impostos pela lei 12.651/2012, e não consiga usufruir de praticamente nenhum bônus. Temos ou não uma ponta solta?
O crédito agrícola também não fica atrás. Ano após ano é lançado com cada vez mais pompa e circunstâncias, superando limites disponibilizados, trazendo linhas inovadoras, mas na prática o dinheiro não chega no tempo desejado nas mãos do agricultor dada a enorme burocracia, juros altos, exigências, contrapartidas e os famosos “ourocaps” da vida. Não seria mais fácil e racional usarmos todo esse montante disponibilizado para fazer o seguro rural? Teríamos uma ponta solta a menos.
E as guias de trânsito animal, as GTAs? O que dizer de um documento oficial federal, emitido pelo produtor rural usando o sistema estadual de defesa sanitária, recolhendo taxas para o estado emissor, e dependendo do Estado, ela é impressa e entregue ao motorista do caminhão para acompanhar a carga de animais da origem até o destino? Essa talvez seja a maior ponta solta de todas, porque acreditem, as informações estaduais custam a chegar até Brasília.
Pelo bem da verdade, é importante dizer que, tempos atrás houve uma tentativa de resolver esse problema, afinal, tecnologia não falta para toda essa integração, e aí veio a PGA, Plataforma de Gestão Agropecuária, que foi vendida e cantada em verso e prosa como a maior invenção brasileira desde a integração lavoura e pecuária. Acabou se tornando o maior mico do Ministério da Agricultura na última década.
Enfim, são sistemas e mais sistemas que, quando funcionam, não interagem com os outros milhares de sistemas espalhados pelo país. São verdadeiros captadores de dados que ficam armazenados em planilhas que, quase sempre, os únicos que as entendem são os servidores ligados ao setor. É como se tivéssemos milhares de caixinhas dispersas, com informações valiosíssimas, mas que não são transformadas em conhecimento.
E aqui vai uma provocação. O que acham do CAR na GTA? Parece simples não, afinal essas duas informações estão em algum lugar do governo.
São sistemas que não interagem, são diretorias que não conversam, são ministérios que não compartilham informações. Milhares de caixinhas espalhadas pela Esplanada dos Ministérios, uma linha reta, contendo 17 prédios idealizados por Oscar Niemeyer, justamente pensando na integração.
E quem sofre com isso? O usuário lógico. Desde a dona de casa fazendo, que absurdo, prova de vida para validar seu cartão do bolsa família, até o mega produtor rural precisando renovar seu limite de crédito junto ao Banco do Brasil.
Perdoem a ironia, mas talvez chegou a hora de criar o MIM, Ministério da Integração Ministerial, com a missão de acabar com as pontas soltas. Quem sabe assim o cidadão brasileiro, que já paga tanto, possa pelo menos economizar seu precioso tempo e ter um serviço de qualidade.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria.