Daqui a exatos 2 meses o Brasil receberá o status de área livre de aftosa sem vacinação. Será certamente um daqueles dias de se marcar na folhinha e colocar o terno novo, afinal chegou finalmente o dia tão sonhado, por alguns. O grande evento acontecerá na sede da OMSA – Organização Mundial de Saúde Animal, na bela cidade de Paris, capital da França.
Curiosamente a entrega desse reconhecimento ao Brasil vem em um momento em que justamente a Europa vive o temor da febre aftosa. De janeiro para cá Alemanha, Eslováquia e Hungria tiveram confirmados o reaparecimento da doença após longos 50 anos, o que acendeu o alerta no velho continente de que algo de errado aconteceu, e isso precisa ser esclarecido.
As autoridades sanitárias europeias quebram a cabeça para tentar identificar a origem do vírus, qual sua tipagem e como ele foi parar lá, afinal o muro de Berlim ainda estava de pé quando eles sofriam com a virose que traz um enorme prejuízo à pecuária de corte. Enquanto isso, no Brasil o Governo Federal, os Estados e os produtores rurais colhem os frutos de um trabalho muito bem executado ao longo de anos.
Com planejamento, estratégia, muito trabalho e ousadia foram implementadas ações que culminaram com a possibilidade de entrarmos no seleto grupo de países produtores que economizam 2 reais por animal por ano deixando de comprar a vacina. Mas é claro que a economia financeira não é a mais importante, o importante é que com esse status atingiremos mercados inatingíveis até então, o Japão por exemplo.
Por falar em Japão, ao que parece muito em breve por lá desembarcarão as primeiras cargas com nossa carne bovina, nos resta saber qual será a marca escolhida, alguém aí arrisca um palpite?
Mas voltando ao nosso tema, esse evento traz de maneira clara alguns recados. O primeiro deles é que o serviço sanitário brasileiro é de excelência, e que consegue monitorar, identificar e propor ações corretivas de maneira eficiente problemas relativos à saúde de nosso rebanho. Outro recado é que o trabalho foi bem feito, e que por merecimento o Brasil recebe essa conquista.
Porém os recentes casos na Europa soam como um sinal permanente de alerta, e que apesar de todo o trabalho, os investimentos em defesa sanitária e vigilância devem ser constantes.
Somos um país de dimensões continentais. São mais de 16 mil quilômetros de fronteira seca com países que não tem o mesmo nível de controle que o Brasil, e pelo bem da verdade a grande maioria dessas fronteiras não trazem nenhum risco à nossa segurança sanitária, mas em alguns pontos o tema é muito sensível graças a intensa atividade pecuária nos 2 lados da fronteira.
“O mais difícil não é chegar ao topo, é se manter no topo.” Essa frase deve ter sido dita por algum alpinista, mas brincadeira à parte faz todo o sentido. Daqui por diante teremos que continuar com o trabalho.
O Governo Federal deve continuar investindo em defesa sanitária. Aparelhar as fronteiras. Que tal um novo concurso público? Já os Estados precisam cada vez mais valorizar seus serviços de monitoramento e vigilância. E os produtores? Estes serão os responsáveis pela manutenção do sucesso, afinal tudo acontece nas propriedades. Nada disso é novidade e todos já sabem dos seus papéis. Mas ainda existe uma ponta solta, o banco de antígenos, não teremos? Ou teremos um à distância?
O fato é que temos muitos motivos para comemorar sim, também ainda temos muito trabalho a fazer.
*Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria